Thursday, September 25, 2008





Busto de Socrates


Comentário pessoal sobre o busto de Socrates

Tenho a nítida impressão que essa escultura de Sócrates partiu de uma mascara cadavérica isto é uma modelagem de seu corpo sem vida momentos após sua morte, essa idéia esta refletida na forma da barba, amarrotada como se tivesse preparada para evitar aderência com a matéria modeladora, o pescoço apresenta uma inclinação com se estivesse com um apoio de cabeça, a cabeça ligeiramente inclinada para traz, confirma a idéia do encosto de cabeça, o tórax despido contraria os costume do filosofo, uma ligeira inclinação da cabeça demonstra um desequilíbrio com o tórax confirmado que estava o corpo deitado e não de pé com tenta a escultura demonstrar, o tórax de demonstra desidratação cadavérica,


Apologia de Socrates

A Apologia, que se crê ser a mais autêntica de entre as autodefesas de Sócrates conhecidas, põe a personagem principal a falar, longamente com as próprias palavras ele utilizou no julgamento em 399 a. C.. Acusado de impiedade e de corrupção da juventude por Metelo, Ânito e Lícon, o velho educador e filósofo de 70 anos fez um apelo vigoroso à absolvição. O tribunal, composto por 501 cidadãos por votação, consideram Sócrates culpado por maioria de votos 281 contra 220, e condenaram-no à morte. Após um curto período de prisão, Sócrates morre depois de ter bebido a cicuta. De acordo com a tradição, Platão, discípulo de Sócrates e seu maior admirador, estava doente e não pôde assistir ao julgamento, mas as provas apresentadas no texto indicam que ele terá estado presente.

A Apologia começa por uma introdução em que Sócrates explica o seu estilo de discursar. A isto segue-se uma lista de acusações específicas, com referência à sua vida e actividades quotidianas. Responde com alguma profundidade a cada uma das acusações de que é alvo. Depois de relatar a defesa de Sócrates, Platão relata as tentativas do mestre para que seja diminuída a pena que lhe é imposta. Finalmente, Sócrates faz uma censura profética aos juízes por supor que eles vão viver sem problemas de consciência depois de pronunciarem a sentença de morte.

Na declaração de abertura, Sócrates explica o estilo coloquial que utilizará na sua defesa. Os acusadores tinham avisado os cidadãos para estarem prevenidos, se não quisessem ser enganados pela oratória de Sócrates quando ele tentasse provar a sua inocência. Sócrates insiste que não é um orador nem um retórico. Em vez disso, está acostumado a vestir a verdade com linguagem comum, de modo a que todos possam seguir o seu raciocínio. Conclui que os ouvintes devem julgar a causa e não a sua maneira de falar.

Na sua defesa, Sócrates responde a dois tipos de acusações: a primeira, mais antiga, mais generalizadora, e a Segunda, a acusação do momento, feita pelos três acusadores no tribunal. Teme mais a primeira acusação do que a Segunda, porque não pode enfrentar os acusadores quando refuta simples rumores e insinuações. As queixas contra a sua conduta foram-se acumulando ao longo dos anos: é tido como um «criminoso e metediço, que perscruta o que se passa debaixo da terra e dentro do céu, torna a causa má e ensina a fazerem como ele».

Sócrates declara que as acusações são falsas. Para se defender cita a comédia As Nuvens, de Aristófanes, em que uma personagem chamada Sócrates insinua que pode andar pelo ar. Este cenário tolo, por mais inocente que fossem as intenções, contribui para a sua má reputação. Outro rumor insinua que investiga matérias sobrenaturais, tanto acima como abaixo da terra. Assegura à assistência que nunca se interessou pelas ciências práticas, e embora admire os físicos e se recuse a considerá-los maldosos no seu trabalho, Sócrates insiste que as suas maiores preocupações são a conduta moral e a felicidade da alma.

Depois disto a defesa de Sócrates vai concentrar-se nas acusações específicas do seu principal acusador, Metelo. Interroga Metelo sobre a acusação de que ele, Sócrates, é um demónio, um corruptor da juventude, um ateu que procura criar os seus própros deuses. Devido à amabilidade de Sócrates no interrogatório, Metelo tropeça nas próprias palavras. Torna-se evidente para os membros do tribunal que Metelo não tinha pensado bem nas acusações que fez nem nas suas possíveis ramificações. Quanto ao ateísmo, Metelo volta a confundir-se nas alegações, parecendo acusar Sócrates de ser ateu como de inventar novas divindades.

Chegando a este ponto, Sócrates analisa outra questão importante - deveria mudar o estilo de investigar e de ensinar para afastar a possibilidade de ser executado. Compara a situação com o seu comportamento honroso no campo de batalha quando serviu no exército. Para Sócrates, a morte é preferível à desgraça. Escolhe viver de acordo com a vontade dos deuses, para cumprir a sua missão de filósofo. A verdadeira desgraça seria desobedecer aos deuses para salvar a própria vida. Para Sócrates, esta via estreita conduz à sabedoria, à verdade e ao «maior aperfeiçoamento da alma».

Num resumo simples das suas intenções, Sócrates dirige-se directamente aos Atenienses: «[...] absolvei-me ou não, mas tende por certo que jamais farei outra coisa, ainda que houvesse de morrer mil vezes.» Menciona os outros discípulos que ensinou, os quais, se tivessem realmente sido corrompidos, se juntariam a Metelo e Ânito na acusação. Sócrates gaba-se de que entre os seus alunos se contam alguns dos seus melhores amigos e defensores fiéis. Apontando vários que se encontravam entre a assistência. Mais, recusa-se a exibir a família e a simpatia dela para fazer pender a opinião dos juízes a seu favor. A defesa é a verdade.

Depois da votação, Sócrates mostra-se surpreendido pelos votos a favor dele terem sido tantos. Segundo as leis atenienses, ele poderia propor uma pena alternativa, como uma multa pesada, o ostracismo ou outros métodos de pagar a sua dívida à sociedade. Sócrates rejeita as alternativas óbvias e pede que o tribunal lhe imponha uma sentença em que seja alimentado pelo estado, ele que dedicou toda a vida ao serviço público e à educação da juventude.

À sugestão de que poderia escapar à sentença de morte se concordasse em acabar com as perguntas, que tendem a tornar-se suspeitas e controversas, Sócrates volta a afirmar que não desobedecerá à ordem do deus e que não se calará. Defende, pelo contrário, uma vida de procura da virtude, dizendo que «uma vida sem exame não vale a pena ser vivida». Só pede um favor: que o tribunal tenha olho nos filhos que estão a crescer e os castigue se verificar que eles estão a tornar-se materialistas, pretensiosos ou inúteis.

Completada a sua defesa, Sócrates aconselha o tribunal a não se felicitar por ter livrado Atenas de um perturbador. Não terão paz nem honra por causa da sua decisão, pois a execução de Sócrates fará mais mal aos algozes do que à vítima. Na opinião de Sócrates, evitar a morte é menos importante do que viver sem virtude. A frase de despedida expressa a sua filosofia de vida:

«E agora chegou a hora de nos irmos, eu para morrer, vós para viver; quem de nós fica com a melhor parte ninguém sabe, excepto o Deus.»

Inúmeras são versões
Em princípio, ó atenienses, é legítimo que eu me defenda das calúnias das primeiras acusações que me foram dirigidas e dos primeiros acusadores, e depois das mais recentes acusações e dos novos acusadores. Pois muitos que se encontram entre vós já me acusaram no passado, sempre faltando com a verdade, e esses me causam bem mais temor do que Ânito e seus amigos, embora estes sejam acusadores perigosos. Mas os primeiros são muito mais perigosos, ó cidadãos, aqueles que convivendo com a maior parte de vós, como crianças que deviam ser educadas, procuraram convencer-vos de acusações não menos caluniosas contra mim: que existe um certo Sócrates, homem de muita sabedoria, que especula a respeito das coisas do céu, que esquadrinha todos os segredos obscuros, que transforma as razões mais fracas nas mais consistentes. Estes, ó atenienses, que propalaram essas coisas acerca de mim, são os acusadores que mais receio, porque, ao ouvi-los, as pessoas acreditam que quem se dedica a tais investigações não admite a existência dos deuses. E esses acusadores são muito numerosos e me acusaram há bastante tempo, e, o que é mais grave, caluniaram-me quando vós tínheis aquela idade em que é bastante fácil – alguns de vós éreis crianças ou adolescentes – dar crédito às calúnias, e assim, em resumo, acusaram-me obstinadamente, sem que eu contasse com alguém para me defender. E o que é mais assombroso é que seus nomes não podem sequer ser citados, exceto o de um comediógrafo; porém os outros – os que, por inveja ou por vício em fazer falsas acusações, procuraram colocar-vos contra mim, ou os que pretenderam convencer os outros por estarem verdadeiramente convencidos e de boa fé –, esses todos não podem ser encontrados, nem se pode exigir que ao menos alguns deles venham até aqui, nem acusar ninguém por difamação, e, em verdade, a fim de me defender só posso lutar contra sombras, e acusar de mentiroso a quem não responde. Portanto, vós deveis vos certificar de que existem duas categorias de acusadores: de um lado, os que me acusam há pouco tempo, e de outro, os que já me acusam há bastante tempo e dos quais tenho falado a respeito, e então reconhecereis que devo defender-me destes em primeiro lugar. Ainda mais porque esses acusadores fizeram-se ouvir por vós antes e mais demoradamente do que aqueles que vieram depois.


Defender-me-ei, portanto, ó atenienses, e assim descobrirei se aquela calúnia, que martiriza meu coração há tanto tempo, possa ser extirpada, embora deva fazê-lo em tão curto prazo. E se eu for bem-sucedido, se conseguir acarretar-vos algum benefício com a minha defesa, será excelente para vós e para mim. Bem sei quanto isto é difícil e tenho plena consciência da enorme dificuldade que me espera. Que tudo se passe de acordo com a vontade do Deus, pois à lei é necessário obedecer e defender-se.




Socrates, o filósofo, estava diáriamente na Ágora (sim, os gregos também tinham um Sócrates e ele também era filósofo, embora não jogasse futebol). Alí ele trocava idéias com amigos e pensava sobre as coisas da vida, da política, da ciencia e da religião (naquela época os filósofos eram menos especializados que são hoje).

As sessões de filosofia e a liberdade com que Sócrates falava de todas as coisas, terminaram atraíndo a ira da elite local contra ele. Os gregos acreditavam que havia um estoque limitado de idéias, e que caras como Sócrates já tinham pensado a maioria delas. De fato, a obra de Platão, constituída em boa parte pelos diálogos de Socrates, é mais grossa que a biblia !

Naquela época (399 AC) Atenas vinha passando por tempos difíceis e as críticas repetidas de Sócrates aos governantes e a própria democracia irritavam os poderosos. Um jovem ambicioso chamado Meletus liderou a perseguição ao velho filósofo.

Socrates foi acusado de ser "instrumento do mal, subversor da juventude, que não acredita nos deuses e inventor das próprias divindades". Este é um tipo de julgamento que ocorreu muito ao longo de toda história: uma perseguição religiosa com motivação em mesquinhos interesses políticos.

O julgamento e a execução de Sócrates provavelmente ocorreram na Ágora ateniense. O juri era constituído de 501 jurados (eles levavam a democracia a sério). Ao invés de usar sua oratória eloqüente para defender-se das acusações, Sócrates preferiu questionar a base da acusação contra ele. Talvez tenha sido um grande erro. Ele terminou sendo condenado por uma margem estreita.

Após ser condenado, os Atenienses usavam a democracia mais uma vez para determinar a pena. Sócrates sugeriu de forma irônica uma multa mínima, enquanto que seu acusador pediu a morte. O juri votou novamente e decidiu - por 441 a 60 - que se um homem era culpado, ele deve ser punido [com a morte].

Após o julgamento, amigos sugeriram que Sócrates fugisse. É provavel até que seus inimigos esperassem que ele fugisse e se auto-exilasse. Mas ele preferiu ficar e ser executado. Essa é talvez uma das primeiras execuções exclusivamente por defesa de idéias.
A execução era feita com um veneno chamado sicuta. O carrasco sugeriu que Socrates ficasse quieto enquanto o veneno fazia efeito, para seu fim ser rápido. Se ele ficasse falando, o veneno demoraria mais e seria mais doloroso. Ele então disse: "pois traga bastante sicuta, que tenho muito a dizer". E morreu falando aos 70 anos, como tinha feito em toda a sua vida.

Embora muito afirmem que Este busto, esculpido após sua morte, reproduz as características principais de Socrates, conforme descritas por Platão: um pouco careca, nariz grosso e testa proeminente. Especula-se que, quando criança, o autor desta escultura tenha conhecido Sócrates.Porém podemos observar traços de uma masca fúnebre, a boca entreaberta, o ângulo de projeção do rosto em relação ao corpo, olhos abertos sem o globo ocular, expressão facial serena acentuada rugas na região frontal, posição do tenteado da barba para evitar a aderência do material de moldagem, a altura de queijo autoriza a presunção de um encosto de cabeça. As mascaras fúnebres eram muito usadas no período. Assim de nada invalida o busto só acrescenta autenticidade


Sócrates foi, provavelmente, o maior filósofo de todos os tempos. Ele viveu em Atenas, na Grécia, por volta de 500 anos antes do nascimento de Jesus. Foi a mente mais iluminada do ocidente em sua época, enquanto no oriente, por volta da mesma época aparecia um tal de Buda, que causou uma revolução no modo de pensar e se relacionar com a vida. Durante os seus 70 anos de vida, Sócrates procurou ensinar, através da dialética (diálogos), as verdades espirituais eternas, questionando sempre as falsas tradições da cultura helenística. Acabou despertando ódio e inimizades entre os detentores do poder e da cultura, que o acusavam de estar corrompendo a juventude ateniense. Foi levado a julgamento e condenado à morte pela ingestão de cicuta, um poderoso veneno.

O texto a seguir foi condensado do livro Apologia de Sócrates, escrita por Platão (seu principal discípulo). Ele descreve o julgamento de Sócrates, apresentando a sua defesa e suas considerações finais, após a sentença de condenação.

A DEFESA

A acusação diz: "Sócrates comete crime, investigando indiscretamente as coisas terrenas e as celestes, e tornando mais forte a razão mais débil, e ensinando aos outros". Mas nada disso tem fundamento, pois não instruo e nem ganho dinheiro com isso. Talvez pudessem dizer de mim: "Enfim, Sócrates, o que é que você faz? De onde nasceram essas calúnias? Se suas ocupações não fossem tão diferentes das dos outros, não teria ganho tal fama e não teriam nascido acusações".

Sócrates responde: Acontece que Xenofonte, uma vez indo a Delfos, ousou interrogar o oráculo e perguntou-lhe se havia alguém mais sábio do que eu. Ora, a pitonisa respondeu que não havia ninguém mais sábio. Ao ouvir isso, pensei: "O que queria dizer o deus e qual é o sentido das suas palavras? Sei bem que não sou sábio, nem muito nem pouco." E fiquei por muito tempo sem saber o verdadeiro sentido de suas palavras. Então resolvi investigar a significação do seguinte modo: Fui a um daqueles detentores da sabedoria, com a intenção de refutar, por meio deles, o oráculo e, com tais provas, opor-lhe a minha resposta: "Este é mais sábio que eu, enquanto você disse que sou eu o mais sábio". Examinando esse homem - não importa o nome, mas era um dos políticos - e falando com ele, parecia ser um verdadeiro sábio para muitos e, principalmente, para si mesmo. Procurei demonstrar-lhe que ele parecia sábio sem o ser. Daí veio o ódio dele e de muitos dos presentes aqui contra mim.

Então, pus-me a considerar comigo mesmo, que eu sou mais sábio do que esse homem, pois que, nenhum de nós sabe nada de belo e de bom, mas aquele homem acredita saber alguma coisa sem sabê-la, enquanto eu, como não sei nada, também estou certo de não saber. Parece, pois, que eu seja mais sábio do que ele nisso: não acredito saber aquilo que não sei.

Fui a muitos outros daqueles que possuem ainda mais sabedoria que esse, e me pareceu que todos são a mesma coisa. Daí veio o ódio deste e de muitos outros. E então me aconteceu o seguinte: procurando segundo o critério do deus, pareceu-me que os que tinham mais reputação eram os mais desprovidos, e que os considerados ineptos eram homens mais capazes quanto à sabedoria.

Também procurei os artífices e devo dizer que os achei instruídos em muitas e belas coisas. Eles, realmente, eram dotados de conhecimentos que eu não tinha e eram muito mais sábios do que eu. Contudo, eles tinham o mesmo defeito dos poetas: pelo fato de exercitar bem a própria arte, cada um pretendia ser sapientíssimo, também, nas outras coisas de maior importância e esse erro obscurecia o seu saber.

Dessa investigação, cidadãos atenienses, tanto me originaram calúnias como também me foi atribuída a qualidade de sábio. E totalmente empenhado em tal investigação, não tenho tido tempo de fazer nada de apreciável, nem nos negócios públicos, nem nos privados, mas encontro-me em extrema pobreza, por causa do serviço do deus. Além disso, os jovens, seguindo-me espontaneamente, gostam de ouvir-me examinar os homens. Eles, muitas vezes, me imitam por sua própria conta e decidem também examinar os outros, encontrando grande quantidade daqueles que acreditam saber alguma coisa mas pouco ou nada sabem. Daí, aqueles que são examinados encolerizam-se e, por essa razão, dizem que há um tal Sócrates que corrompe os jovens.

Saibam, quantos o queiram, que por esse motivo sou odiado; e que digo a verdade, e que tal é a calúnia contra mim e tais são as causas.

Cidadãos de Atenas, creio que vocês não têm nenhum bem maior do que este meu serviço do deus. Por toda a parte eu vou persuadindo a todos, jovens e velhos, a não se preocuparem exclusivamente com o corpo e com as riquezas, como devem se preocupar com a alma, para que ela seja o melhor possível. Absolvendo-me ou não, não farei outra coisa, nem que tenha de morrer muitas vezes. Dessa forma, parece que o deus me designou à cidade com a tarefa de despertar, persuadir e repreender cada um de vocês, por toda a parte, durante todo o dia. É possível que vocês, irritados como aqueles que são despertados quando no melhor do sono, levianamente me condenem à morte, para dormirem o resto da vida.


A CONDENAÇÃO

A minha impassibilidade, cidadão de Atenas, diante da minha condenação deriva, entre muitas razões, que eu contava com isso, e até me espanto do número de votos dos dois partidos. Por mim, não acreditava que a diferença fosse assim pequena.

Os meus acusadores pedem, para mim, a pena de morte. Que pena ou multa me merece? O que convém a um pobre benemérito que tem necessidade de estar em paz para lhes poder exortar ao caminho reto? Para um homem assim conviria que fosse nutrido e mantido pelo Estado. Por não terem esperado um pouco mais, vocês irão obter a fama e a acusação de haverem sido os assassinos de um sábio, de Sócrates. Pois bem, se tivessem esperado um pouco de tempo, a coisa seria resolvida por si mesma: vejam vocês a minha idade.

Talvez, senhores, o difícil não seja fugir da morte. Bem mais difícil é fugir da maldade, que corre mais veloz que a morte. Eu, preguiçoso e velho, fui apanhado pela mais lenta: a morte. Já os meus acusadores, válidos e leves, foram apanhados pela mais veloz: a maldade.

Assim, eu me vejo condenado à morte por vocês; vocês, condenados de verdade, criminosos de improbidade e de injustiça. Eu estou dentro da minha pena, vocês dentro da sua.

E estamos longe de julgar retamente, quando pensamos que a morte é um mal. Porque morrer é uma destas duas coisas: ou o morto não tem absolutamente nenhuma existência, nenhuma consciência do que quer que seja; ou, como se costuma dizer, a morte é uma mudança de existência e uma migração deste lugar para outro.

Se, de fato, não há sensação alguma, mas é como um sono, a morte é como um presente, porquanto todo o tempo se resume em uma única noite.

Se a morte, porém, é como uma passagem deste para outro lugar e se lá se encontram todos os mortos, qual o bem que poderia existir maior do que este? Quero morrer muitas vezes, se isso é verdade, pois para mim a conversação acolá seria maravilhosa. Isso constituiria indescritível felicidade.

Vocês devem considerar esta única verdade: que não é possível haver algum mal para um homem de bem, nem durante sua vida, nem depois de morto. Por isso mesmo, o que aconteceu hoje a mim não é devido ao acaso, mas é a prova de que para mim era melhor morrer agora e ser liberto das coisas deste mundo. Por essa razão não estou zangado com aqueles que votaram contra mim, nem contra meus acusadores.

Mas já é hora de irmos: eu para a morte, e vocês para viverem. Mas quem vai para melhor sorte é segredo, exceto para Deus.


Sócrates, filósofo grego (Atenas 470/69 - ed. 399 a.C.)
Sócrates nasceu em uma família rica de Atenas, filho do escultor Sofronisco e da parteira Fenareta. Por um certo período, serviu no Exército, mas passou a maior parte da vida nas praças da cidade e nos mercados, conversando com as pessoas que lá encontrava. quando estava na casa dos 50 anos de idade, casou-se com Xantipa, com quem teve três filhos. As descrições que se fazem dele o pintam como alguém extremamente feio: barrigudo, com olhos esbugalhados e nariz arrebitado. Mas consta que era "agradabilíssimo". Apesar disso, foi condenado à morte por suas atividades filosóficas.
Sócrates foi, provavelmente, a figura mais enigmática de toda a história da filosofia, ele por si só foi um problema filosófico. Não escreveu nada, enquanto a produção literária de seu tempo era abundante; não fez carreira de professor, enquanto inúmeros contemporâneos seus aproveitaram o talento pedagógico, e apesar disso foi um dos filósofos que mais influenciaram o pensamento europeu. Sócrates é conhecido através de Aristófanes, que o denigre sob uma visão caricatural; de Xenofonte, que nos oferece dele uma imagem simplista; e de Platão, que lhe dá uma estatura fundamental na história da filosofia. Mas Platão, seu principal discípulo, ao que parece, teria feito de Sócrates um retrato fiel ou um retrato sublimado por sua devoção e seu própria genialidade? Essa questão ficou insolúvel e somente nos foi permitido extrair os traços comuns dos textos daqueles que o conheceram, sem deixar de lado elementos da visão que a tradição consagrou, que é a que maior influência exerceu no Ocidente. No final dos anos 1980, porém, o jornalista norte-americano Izzy Stone escreveu um livro respeitável e desmistificador a respeito do filósofo grego: O julgamento de Sócrates (1987). Para isso, empreendeu uma pesquisa longa e exaustiva, onde procurou reconstituir o retrato mais fiel possível do Sócrates histórico.
No entanto, no ano de 399 a.C., Sócrates foi acusado de "introduzir novos deuses" (as "vozes interiores divinas" que ele afirmava ouvir na cabeça) e corromper os jovens, além de não acreditar nos deuses venerados. O governo de Atenas foi uma das primeira democracias do mundo. Sócrates, por outro lado, não escondia que acreditava que seria melhor para o Estado ser governado por uma só pessoa, que ele qualificava como "aquele que sabe". Alguns consideravam os pontos de vista de Sócrates uma ameaça à estrutura da vida em Atenas. Preocupado com a influência antidemocrática de Sócrates sobre os jovens aristocratas (entre eles Platão) envolvidos no pensamento socrático, um júri de 501 membros o declarou culpado, por pequena maioria.
Ele poderia ter pedido clemência. Poderia ter salvado a vida concordando em sair de Atenas. Mas, agindo desse modo, Sócrates não teria sido coerente consigo mesmo. Para ele, a consciência - e a verdade - tinha mais calor do que a vida. Assegurou ao júri que agira apenas pelo melhor dos interesses do Estado, mas foi condenado a tomar cicuta. Embora lhe preparassem a fuga de Atenas, preferiu cumprir a sentença. Pouco depois da sentença, bebeu do veneno na presença de amigos e morreu. A democracia fracassava, ao permitir sua condenação e morte - e esse era, quase com certeza, o plano de Sócrates.
A Atenas da época de Sócrates era um importante centro de debates, visitado por todos os grandes pensadores de então. Um desses grupos de filósofos itinerantes era chamado de sofista. Os sofistas ensinavam por dinheiro, ao mesmo tempo que afirmavam que as indagações da filosofia, os enigmas do Universo, jamais seriam respondidas pelo mortal - uma perspectiva filosófica conhecida como ceticismo. Com os sofistas e Sócrates, o centro da reflexão filosófica grega deslocou-se dos problemas cosmológicos para os problemas humanos, particularmente a ética. E, para Sócrates, a virtude se identificaria com o saber: o homem só agiria mal por ignorância.
Assim como os sofistas, Sócrates tinha mais interesse no homem e em seu lugar na sociedade do que nas forças da Natureza. Ao contrário deles, Sócrates jamais recebeu dinheiro em troca de ensinamentos, e se distinguia dos sofistas em um outro aspecto bastante importante. Sócrates não se considerava um "sofista" - ou seja, uma pessoa erudita ou sábia. Tendo encontrado a sociedade ateniense minada pela demagogia e pelas repercussões negativas da desastrosa Guerra do Peloponeso, o filósofo teria se empenhado, a partir dos 40 anos, na reestruturação moral de seus concidadãos. Passou então a viver nas ruas de Atenas ensinando a virtude e a sabedoria. Não aceitava pagamento por isso e tampouco aceitou cargos públicos. Opôs-se aos sofistas, afirmando que o conhecimento é possível e que seu objeto primordial é a própria alma (Sócrates teria se inspirado no adágio do oráculo de Delfos: "Conhece-te a ti mesmo").
Ele achava que o filósofo é aquele que admite não entender inúmera coisas, e que se aflige com isso. Nesse sentido, o filósofo ainda é mais sábio do que aqueles que se orgulham do conhecimento que têm das coisas sobre as quais, na verdade, nada sabem. Sócrates declarou: "Só sei que nada sei".
Consta que um amigo de Sócrates perguntou ao oráculo de Delfos quem era o homem mais sábio de Atenas. O oráculo respondeu que, dentre todos os mortais, Sócrates era o mais sábio. Sócrates ficou pasmo ao saber disso. Procurou imediatamente a pessoa na cidade que, para ele e para todo mundo, era extremamente sábia. Mas quando aconteceu de essa pessoa não dar as respostas satisfatórias a suas perguntas, embora se achasse capaz disso, Sócrates concluiu que o oráculo estava certo. A sabedoria de Sócrates de devia ao faro de ele estar plenamente ciente da própria ignorância.
Embora colocasse em constante dúvida a extensão de seu conhecimento (um método que Descartes usaria cerca de dois mil anos mais tarde). Sócrates achava possível um homem alcançar verdades absolutas acerca do Universo. Ele sentia a necessidade de estabelecer uma base sólida para nosso conhecimento, um alicerce que, segundo ele, estaria na razão do homem. Com essa inabalável crença na razão humana, Sócrates era decididamente um racionalista.
Ele afirmava que era guiado por uma voz interior divina, e que essa "consciência" lhe dizia que ele estava certo. Ele disso: "Aquele que conhece o bem faz o bem". Com isso, queria dizer que o entendimento justo leva à ação justa. E só o justo pode ser um "homem virtuoso". Quando agimos erradamente é porque nada sabemos. Sócrates estava interessado em descobrir definições claras e universalmente válidas para o certo e o errado. Ao contrário dos sofistas, ele achava que a capacidade de distinguir o certo do errado está na razão das pessoas e não na sociedade.
A natureza essencial da arte de Sócrates está em que ele parecia não querer ensinar as pessoas. Pelo contrário, dava a impressão de desejar aprender com aqueles com quem conversava. Em vez de dar aulas como um mestre tradicional, debatia, simplesmente fazendo perguntas - principalmente para começar uma conversa - com se nada soubesse. Ao longo dos debates, em geral levava os oponentes a reconhecer a fraqueza de seus próprios argumentos e, encostados contra a parede, finalmente compreender o que estava certo e o que estava errado.
Partindo da consciência da própria ignorância ("Só sei que nada sei"), utilizava como método não a exposição, mas a dialética (aqui com o sentido de arte do diálogo e da discussão), que podia assumir duas formas distintas:
a ironia socrática, com a qual alegava ignorância em assuntos de que os outros se julgavam profundos conhecedores, apenas para demolir suas opiniões, levando o interlocutor à contradição e, desse modo, a purificar o espírito de idéias falsas e preconceitos. Ao se passar por ignorante, Sócrates obrigava as pessoas a usar o senso comum. Ele não hesitava em agir desse modo na praça da cidade;
e a maiêutica (arte de partejar os espíritos, numa alusão à profissão materna), pela qual Sócrates auxiliava o interlocutor a encontrar a resposta por meio de um trabalho de reflexão; em outras palavras, Sócrates via como sua tarefa ajudar as pessoas a "dar à luz" a compreensão correta, uma vez que o verdadeiro entendimento deve vir do interior. Ele não pode ser transmitido por outra pessoa. E só o entendimento que vem de dentro pode levar ao verdadeiro conhecimento.
A vida e o pensamento de Sócrates fascinaram os filósofos ocidentais e suscitaram uma admiração quase mística em Rousseau, Kant e Hegel, ao mesmo tempo que uma rejeição exemplar em Nietzsche, que via nele o aniquilador do mito em nome da razão.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home